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Professor Fábio Cantizano, especialista em marketing para o mercado fitness.
Fabio Cantizano CREF: 16603-G/RJ – Profissional de Ed. Física.

Em 2022, a vida de Joel Ulisses Ramos Ferreira, hoje com 47 anos, virou de cabeça para baixo. Um acidente grave poderia tê-lo paralisado — mas acabou despertando uma força que ele nem imaginava ter.


O acidente que mudou sua história

Era 17 de abril de 2022.
Joel havia saído com sua filha para uma simples ida à farmácia. De repente, um motorista alcoolizado invadiu a contramão e o atingiu em cheio. O impacto foi brutal: fratura exposta na tíbia e fíbula.

Levado às pressas ao Hospital Rocha Faria, passou por cirurgia emergencial, mas um erro no procedimento vascular deixou sua perna sem pulso. Dias depois, já no Hospital Salgado Filho, ouviu a notícia que ninguém está preparado para escutar: a amputação seria inevitável.

“Naquele mesmo dia comecei a pesquisar como amputados levavam a vida. Queria entender como voltavam a andar, a trabalhar, a viver.”

A cirurgia foi feita em 28 de abril. Poucos dias depois, Joel recebeu alta — e iniciou o que ele chama de “a maratona mais importante da vida”.

Joel Ulisses posando no RIO PRO Muscue Contest, no Ribalta, Rio de Janeiro.
Joel Ulisses posando no RIO PRO Muscue Contest, no Ribalta, Rio de Janeiro.

A escalada da superação

Durante 15 dias, ficou na cadeira de rodas. Logo passou às muletas, determinado a não se deixar abater. O plano era claro: colocar uma prótese o mais rápido possível.

O problema? O custo.

  • Prótese completa: cerca de R$50 mil
  • Apoio público: nenhum
  • Solução: vaquinha online e solidariedade de amigos e desconhecidos

Com o valor arrecadado, viajou até Sorocaba (SP) e conseguiu a prótese com desconto. Em apenas quatro meses, estava de volta aos treinos.

“A vontade de voltar a andar foi maior do que o medo. Aquele momento redefiniu o que é força pra mim.”


Os obstáculos de ser PCD no Brasil

A vitória da reabilitação veio acompanhada de novos desafios.
Joel descobriu, na prática, o que todo PCD sente nas ruas e nas burocracias do país:

  1. Falta de acessibilidade: calçadas quebradas e rampas inexistentes.
  2. Custos absurdos: um novo encaixe da prótese custa mais de R$25 mil; o liner de silicone, R$9 mil.
  3. Pouco apoio financeiro: muitos sobrevivem com apenas um salário mínimo (LOAS).

“O problema não é ser amputado, é viver em um país que não enxerga as pessoas com deficiência. Eu não tenho limitações — o que me limita é o sistema.”


Joel em sua academia, treinando.
Arquivo pessoal do atleta.

Do trauma ao palco do fisiculturismo

Antes mesmo do acidente, Joel já treinava. O amor pelo ferro o acompanhava há décadas. Mas foi só em 2024 que o fisiculturismo entrou de vez na sua vida.

Tudo começou com uma provocação bem-humorada de um amigo dono de academia:

“Ô perninha, por que não seca tudo e vira fisiculturista?”

O apelido pegou — e o desafio também.
Em pouco tempo, Joel estava de dieta, com treinos mais intensos e foco total na nova meta.
O que era curiosidade virou paixão: o fisiculturismo se tornou seu estilo de vida.


A rotina de quem não se entrega

Treinar todos os dias com uma prótese não é simples. Chuva, cansaço e o alto custo da alimentação e suplementação tornam tudo mais difícil. Mas Joel não abre exceções:

  • Academia: treina na SKY FIT, em Campo Grande, que o apoia com acesso livre.
  • Suplementação: paga do próprio bolso.
  • Ajuda externa: apenas pequenas contribuições de amigos e da marca Duel Life Style, que fornece roupas.
  • Apoio emocional: sua esposa, Daliane Ferreira, é quem garante que ele nunca desista.

“Treinar virou parte da minha vida. Mesmo sem patrocínio, vou até o fim. Enquanto minha perna aguentar agachar pesado, estarei lá.”


Mais do que músculos, é propósito

O esporte devolveu a Joel não apenas força física, mas também propósito e fé.
Ele treina sozinho, mas conta com a ajuda de um amigo nutricionista, Pablo Andrade, para ajustar a dieta e estratégias.

“O palco é só o símbolo. A verdadeira vitória é acordar todos os dias com vontade de continuar.”


Lições de vida que o fisiculturismo reforçou

Joel acredita que sua jornada não é sobre deficiência, e sim sobre determinação.
Em suas palavras:

“A força que as pessoas veem em mim não vem dos músculos. Vem da vontade de seguir em frente, mesmo quando tudo parece desabar.”

Seus princípios podem ser resumidos em três pilares:

  1. Fé: acreditar que cada obstáculo tem um propósito.
  2. Disciplina: cumprir o que prometeu a si mesmo, mesmo sem motivação.
  3. Resiliência: usar a dor como combustível para evoluir.

Um alerta sobre empatia

Três anos depois do acidente, Joel fez uma constatação dolorosa:
a empatia das pessoas tem prazo.

“Quando estava mal, muita gente ajudou. Agora que estou mais forte, escuto críticas como ‘vende o carro’ ou ‘para de tomar bomba’. É como se quisessem que eu continuasse derrotado pra justificar a pena.”

Mesmo assim, ele não guarda rancor. Apenas reforça a importância de acolher sem julgar.


A mensagem que ele deixa

Aos que vivem desafios parecidos, Joel é direto:

“Não espere estar pronto pra começar. Faça o que puder com o que tem.
Ocupe a mente, mova o corpo, dê o seu melhor.
A vida é curta demais pra viver limitado.”


Um exemplo que inspira

Hoje, Joel Ulisses é um exemplo vivo de que limitação é questão de perspectiva.
De uma cama de hospital a um palco de fisiculturismo, ele mostrou que a verdadeira força nasce da fé e da constância.

E enquanto houver treino, vontade e amor, ele seguirá levantando peso — e inspirando quem o cerca a levantar junto.

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