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Professor Fábio Cantizano, especialista em marketing para o mercado fitness.
Fabio Cantizano CREF: 16603-G/RJ – Profissional de Ed. Física.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está em crescimento global e impacta diversas áreas, incluindo o desenvolvimento motor. É um fato estabelecido: crianças com TEA frequentemente apresentam atrasos e disfunções no controle motor e nas habilidades físicas.

Esses déficits vão além da dificuldade em esportes. Eles criam barreiras significativas para a independência e atividades cotidianas. A intervenção precoce é crucial, e o Treinamento de Força (musculação, treino com peso corporal ou elásticos) surge como uma estratégia de alto impacto para reverter esses quadros.


O Músculo Escondido: Por que a Força Manual é Tão Importante?

O principal achado de diversas pesquisas é claro: indivíduos com TEA geralmente possuem uma força muscular significativamente menor em comparação com seus pares neurotípicos.

Especificamente, a força de preensão manual (força da mão e do antebraço) é um indicador crucial. Estudos mostram que essa fraqueza se correlaciona diretamente com a gravidade do transtorno e a dificuldade em atividades funcionais.

  • Impacto Prático: A força de preensão é essencial para tarefas simples como segurar um lápis, usar talheres, abotoar uma camisa ou carregar uma mochila.
  • A Solução é o Treino: Programas focados em exercícios de fortalecimento da preensão manual demonstraram não apenas melhorar a força, mas também gerar um efeito positivo nas habilidades motoras finas.

Do Halter ao Cérebro: Benefícios Além do Físico

A ciência mais recente mostra que o Treinamento de Força para crianças e adolescentes com TEA é um investimento “cabeça-e-corpo”. Os benefícios transcendem o ganho físico, impactando funções cognitivas essenciais.

Fortalecimento de Membros Inferiores e Motricidade Global

Programas de treino lúdicos, como o uso de cama elástica, provaram ser extremamente eficazes. Eles não só melhoram a força dos membros inferiores, crucial para correr, pular e ter equilíbrio, mas também elevam a proficiência motora global.

  • Essa abordagem sugere que atividades físicas prazerosas e diversificadas podem aumentar a adesão e otimizar os resultados na população com TEA.

Ligação Direta com a Função Executiva e Propriocepção

Uma das descobertas mais promissoras é a associação entre a força muscular e a Função Executiva. Esta função é a responsável por habilidades como planejamento, foco, memória de trabalho e controle de impulsos.

  • A promoção da força muscular, através de exercícios regulares, tem o potencial de melhorar o processamento de informações e reduzir a disfunção executiva relacionada ao TEA.
  • Adicionalmente, jovens com TEA frequentemente têm a propriocepção reduzida (o senso de onde o corpo está no espaço). O treinamento de força é um forte candidato para melhorar essa percepção, favorecendo a coordenação e o equilíbrio.
criança autista treinando salto com personal trainer no condomínio
O treinamento conduzido por profissionais sem qualificação coloca em risco o desenvolvimento da criança, além de comprometer toda a segurança.

Recomendações Práticas

Baseado nas evidências científicas compiladas na revisão integrativa, o Treinamento de Força deve ser parte essencial da intervenção multidisciplinar no TEA.

O planejamento feito por profissional de educação física qualificado é essencial. É crucial entender que cada profissional da saúde que atua no TEA tem seus limites em prescrições. Sendo assim, o profissional de educação física é mais qualificado e habilitado para prescrever exercícios de força.

Comece Pelo Básico Funcional

Exercícios que desenvolvem a força essencial para o dia a dia são prioritários. Foco na força de preensão manual é uma excelente porta de entrada, com exercícios que simulem apertar, agarrar e segurar objetos de diferentes texturas e pesos.

O volume e a intensidade devem ser bem planejados para não tornar a sessão de treino sacrificante. A experiência do profissional é fundamental para manter o foco e a segurança durante a execução.

Use o Lúdico a Seu Favor

O treinamento não precisa ser monótono. Utilize abordagens baseadas em brincadeiras e atividades divertidas, como o treino em camas elásticas, jogos de força ou circuitos. Isso aumenta a adesão da criança ou adolescente e otimiza os resultados tanto físicos quanto motores.

O professor Dr. Darlan Santos é referência nacional em prescrição de exercícios de força para crianças e adolescentes com TEA. Siga-o no Instagram, clicando aqui.

Foco na Força de Membros Inferiores

Inclua exercícios que fortaleçam as pernas e o tronco, pois isso melhora a proficiência motora global (equilíbrio, coordenação e locomoção). Agachamentos adaptados, saltos e exercícios de equilíbrio são fundamentais.

Mas atenção: A segurança do espaço deve ser tão bem planejada quanto a sessão de treino em si.

Individualização é a Regra de Ouro

A gravidade do TEA é um fator que se relaciona com a força muscular. É crucial que o programa de exercícios seja personalizado por um profissional qualificado para atender às necessidades e limitações sensoriais únicas de cada indivíduo.

Ambientes onde a criança ou adolescente se sente confortável traz vantagens. Nem todas as crianças respondem bem ao treinamento em grupo. A experiência do profissional em avaliar e tomar decisões nesse sentido é essencial.


Conclusão: Força é Sinônimo de Independência

O Treinamento de Força é uma estratégia viável e altamente benéfica para crianças e adolescentes com autismo.

As evidências mostram que, ao promover melhorias na força muscular (principalmente na preensão manual e nos membros inferiores), conseguimos impactar positivamente as habilidades motoras finas, a função executiva e a autonomia para as atividades da vida diária.

A força física se traduz em mais qualidade de vida, inclusão e um melhor desenvolvimento cognitivo para essa população. O próximo passo da ciência é criar diretrizes de dosagem mais específicas para o profissional da saúde.

Não estamos falando apenas de habilidades motoras aqui, mas da possibilidade de convívio em sociedade com mais qualidade.


Referência Científica

Santos, D. T. dos, Oliveira, S. D. R. C., Monteiro, C. E. L., Silva, J. S. da, Gadelha, C. J. M. U., Santos, L. O., Oliveira, N. A. C. de, & Silva, L. F. da. (2024). Efeito do treinamento de força para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista: uma revisão integrativa da literatura. Cuadernos de Educación y Desarrollo, 16(3), 01–17.