
Um assunto (conflito) que vem ganhando muito espaço no mercado fitness, mas sem muitas propostas de soluções, é a possibilidade de gravar vídeos durante o treino.
Muitos influenciadores digitais vivem da criação de conteúdos fitness, sendo a sala de musculação e demais espaços da academia transformados cada vez mais em estúdios, muitas vezes confundidos como “particulares”.
Na última semana, compartilharam comigo a matéria de uma revista empresarial, a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, sobre a discussão entre duas mulheres na academia.
O assunto nem tem a ver com a proposta da revista, sendo uma prova consolidada de que conteúdo fitness chama atenção e merece planejamento criterioso para alavancar marca. O conflito não foi no Brasil, mas como temos costume de adotar o que vem de fora, vale a reflexão.
A situação desagradável
Por mais que muitos ganhem a vida expondo suas rotinas fitness, a maioria não vive disso e deseja privacidade (mesmo a academia aparentando ser espaço público).
Por mais que no contrato da academia haja cláusula de uso de imagem, esta é para uso exclusivo da academia em seus canais digitais, não para uso em canais de outros clientes.
De um lado: Influenciadores fitness que vivem da publicação de conteúdos.
Do outro lado: Pessoas desejando cuidar da saúde em paz, sem ter que se preocupar com exposição na mídia alheia.
O que ambos têm em comum? O espaço destinado ao treino!
A musculação é a modalidade mais democrática e com melhor relação custo-benefício do mercado fitness, justamente por conta da imensidão de benefícios por um valor acessível, se compararmos com o investimento feito em estrutura e equipamentos.
Tal cenário vira uma faca de dois gumes: Modalidade que a maioria precisa x Público heterogêneo – Este é o cenário que mais sinaliza a necessidade de regras de conduta e segurança para que todos possam praticar exercícios com segurança. É nessa hora que o gestor precisa pensar em Proposta Única de Valor e público-alvo.
Dúvidas comuns sobre o conflito
O espaço é público
Mito – O espaço é privado e pode matricular qualquer pessoa que deseja treinar musculação, independentemente dos objetivos. O fato de receber todo tipo de público não significa que todos possam fazer o que desejam.
Privacidade
Verdade – Mesmo sendo um espaço frequentado por centenas ou até mesmo milhares de pessoas, não significa que a imagem do cliente deva ser visualizada em canais que não sejam os seus próprios ou os da academia (caso haja cláusula de permissão no contrato).
O direito de um começa onde termina o do outro
Muitas academias criam espaços que permitem fotos e vídeos, mas que nem sempre atendem o necessário de quem vive da publicação de conteúdos fitness.
A questão é: Se a pessoa é influenciadora e vive disso, pagar mensalidade para treinar dá o direito de usar o espaço como estúdio, além de repreender demais clientes, caso estejam “atrapalhando a filmagem”?
A orientação sem limites geográficos
Não é de hoje que vemos também em sala pessoas treinando sob supervisão de um profissional online. O cliente usa o celular como ferramenta, em chamada de vídeo ao vivo, orientando e corrigindo movimentos do seu cliente na academia.
O que devemos refletir aqui: Até de que ponto deveria ser permitido esse tipo de orientação, já que não há como saber se o profissional da chamada é devidamente registrado e, teoricamente, está “dentro da sua academia”?
A responsabilidade da academia
Se um cliente tropeça sem querer e danifica o equipamento (celular + tripé) de um influenciador ou de um cliente que esteja sendo orientado pelo seu coach online, de quem será a responsabilidade?
A solução que nem sempre soluciona
Incluir no contrato cláusulas que permitem o uso da imagem por terceiros não é suficiente, pois mesmo assinando, gera desconforto nos que precisam praticar exercícios e não desejam ser submetidos às lentes alheias.
Se a academia apoia a gravação de conteúdos por influenciadores fitness, deve planejar o espaço com regras rígidas de segurança, pois alguém pode até mesmo tropeçar em tripés e telefones pelo salão, gerando conflito entre partes emocionalmente abaladas no momento do acidente.
Se tem regras, não satisfaz o influenciador. Se não tem, pune os demais frequentadores. O que você, gestor, realmente deseja para seu negócio?
O que não pode acontecer de forma alguma?
Em hipótese alguma um cliente deve ser repreendido por “atrapalhar” a filmagem de outro.
Caso atrapalhe e seja chamado a atenção, que conduta a academia deverá seguir (com embasamento legal), para corrigir o problema, já que boa parte desses tipos de conflitos não são citados em contratos ou normas de conduta?
Gestor, ou você permite e cria regras, informando todos que se matriculam (ali no balcão) sobre a possibilidade de aparecer em imagens alheias (pode dar zebra também), ou, não permita gravação alguma.
Já que temos hábito de copiar o que é feito lá fora, saiba que em muitos países da Europa nem mesmo fotos são permitidas.
A musculação atende todos, mas sua academia deve atender um público específico. O que não rola é você ficar em cima do muro, gestor.






