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Professor Fábio Cantizano, especialista em marketing para o mercado fitness.
Fabio Cantizano CREF: 16603-G/RJ – Profissional de Ed. Física.

Periodização: A Bússola do Treinamento de Força

A periodização é a arte e ciência de planejar seu treinamento de forma sistemática. Ela envolve a manipulação organizada de variáveis de treino, como intensidade (carga) e volume (séries e repetições), ao longo do tempo.

O objetivo principal é maximizar seus resultados (performance ou força) e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de overtraining (excesso de treino) ou estagnação. A American College of Sports Medicine (ACSM) recomenda o uso de programas periodizados por serem mais eficazes do que os não periodizados.

Apesar do reconhecimento da periodização, ainda há um debate científico sobre qual modelo é o mais eficaz para aprimorar o desempenho neuromuscular em diferentes populações. Essa discussão se concentra em dois modelos principais: o Linear e o Ondulatório (ou Não-Linear).

Entendendo os 2 Tipos de Periodização

Periodização Linear (PL)

A Periodização Linear (PL) segue uma progressão mais rígida e sequencial. Ela é caracterizada por iniciar com alto volume e baixa intensidade de treinamento.

Com o passar das semanas ou meses, a intensidade aumenta gradualmente, enquanto o volume de treino diminui. A transição entre as fases é, portanto, previsível e lenta.

Imagine um ciclo de meses onde você começa com muitas repetições leves e, progressivamente, termina com poucas repetições e cargas máximas.

Periodização Ondulatória (PO)

A Periodização Ondulatória (PO) se distingue por introduzir variações mais frequentes no volume e na intensidade. Essa variação pode ocorrer diariamente (Periodização Ondulatória Diária, POD) ou semanalmente (Periodização Ondulatória Semanal, POS).

Em vez de seguir uma progressão estrita, você pode treinar para a força em um dia, a hipertrofia (volume moderado) no dia seguinte e a resistência (alto volume) no terceiro. Acredita-se que essa manipulação não linear, com mudanças frequentes de estímulo, seja mais propícia aos ganhos de força a longo prazo.

A Evidência Científica: PL vs. PO no Ganho de Força

Uma extensa revisão sistemática e meta-análise, abrangendo 17 estudos e 510 participantes, examinou a eficácia da PL e da PO no aumento da força muscular. A análise quantitativa comparou os resultados de programas que diretamente opunham os dois modelos.

Força de Membros Superiores (Supino, etc.)

Para a força da parte superior do corpo (testes como o supino 1 Repetição Máxima – 1RM), o estudo concluiu que não houve diferença significativa na eficácia entre a Periodização Linear e a Ondulatória.

Ambos os programas periodizados foram capazes de gerar aumentos estatisticamente significativos na força máxima em 16 dos 17 estudos. Isso sugere que a chave não está apenas no tipo de periodização, mas no ato de periodizar o treinamento.

Força de Membros Inferiores (Agachamento, Leg Press)

De forma similar aos membros superiores, a meta-análise não encontrou um efeito claro que favorecesse a PL ou a PO para o desenvolvimento da força da parte inferior do corpo (agachamento 1RM ou leg press 1RM).

A maioria dos estudos individuais também não encontrou diferenças significativas nos ganhos de força máxima entre os dois grupos. O resultado reforça a ideia de que ambas as abordagens são ferramentas válidas para o aumento da força.

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O Fator-Chave: A Importância da Novidade no Estímulo

O que realmente se destacou na revisão foi o papel da novidade do treinamento. Quando o corpo se acomoda a um estresse de treino constante (o princípio da acomodação) — por exemplo, seguindo a PL por muito tempo —, os ganhos param.

A PO, ao oferecer variação de volume e intensidade mais frequente, pode fornecer o estímulo novo necessário para superar platôs de força, especialmente para quem já vinha de um modelo mais rígido. Isso indica que a mudança de modelo, e não o modelo em si, pode ter sido o catalisador dos ganhos em alguns casos.

A duração relativamente curta dos estudos (em média 12 semanas) foi apontada como um fator limitante. É possível que as diferenças se tornem mais aparentes em programas de treino de resistência que durem mais tempo.

Recomendações Práticas

Considere a Periodização como Obrigatória

Programas de treino de força periodizados, sejam eles Lineares ou Ondulatórios, são mais eficazes para o ganho de força do que programas não periodizados. Escolha um modelo e siga-o consistentemente.

Use a Variedade para Quebrar Platôs

Se o seu objetivo é a força e você está estagnado, altere o estímulo. Se você segue uma rotina Linear há meses, mude para uma Periodização Ondulatória (POD ou POS) por um bloco de 2 a 6 semanas para injetar novidade e promover novos ganhos.

Avalie sua Experiência de Treinamento

Sua experiência prévia (histórico de treinamento) é um fator crucial. Se você é um iniciante, qualquer um dos modelos periodizados funcionará. Se você é um praticante avançado, a novidade da Periodização Ondulatória pode ser mais vantajosa para progredir, especialmente se você se adaptou a um treino Linear.

Foco na Consistência e Volume/Intensidade Equilibrados

Se o volume de trabalho total for igual, a Periodização Linear e a Ondulatória são igualmente eficazes a curto prazo. Preocupe-se menos com a escolha do modelo e mais com a consistência, a progressão de cargas e a manutenção de uma técnica perfeita.


Referência Científica:

Harries, S. K., Lubans, D. R., & Callister, R. (2015). Systematic Review and Meta-Analysis of Linear and Undulating Periodized Resistance Training Programs on Muscular Strength. The Journal of Strength and Conditioning Research, 29(4), 1113–1125.